![]() |
Porto Editora|381páginas|Fev. 2014 |
A sinopse deste livro foi o que
me despertou o interesse: o homicídio de uma criança de oito anos provavelmente
morta por outra criança de apenas onze anos, não é uma história comum em
literatura policial e, como tal, eram altas as minhas expectativas ao iniciar
esta leitura.
Com uma narrativa, inicialmente, célere,
ficamos a conhecer a vida e a infância conturbada das duas personagens
centrais, Daniel e Sebastian: o primeiro, um jovem advogado promissor que não
teve uma infância fácil e a sua conduta, em virtude disso, nunca foi exemplar,
nomeadamente durante a sua juventude. Contudo, com o passar do tempo, torna-se
responsável e tenta exercer a justiça de uma forma exemplar. Sebastian, por seu
turno, acusado de ter matado Bem, é o cliente de Daniel e partilha com ele a
infância difícil e um carácter forte, nada usual em crianças de onze anos.
Alternando passado e presente,
Lisa Ballantyne, através de uma escrita fluente e apelativa, demonstra aos leitores
como a infância, os traumas e as relações humanas em idade infanto-juvenil,
moldam a personalidade das pessoas e têm consequências inesperadas na sua vida.
Esta componente psicológica acompanha o leitor do princípio ao fim do livro,
lançando questões, chocando mesmo em determinadas descrições e fazendo-nos
pensar, sendo por isso um dos factores que mais apreciei nesta leitura.
As semelhanças nas histórias de
vida das personagens principais fazem com que estas se aproximem e,
inclusivamente, é difícil a Daniel manter uma certa imparcialidade na defesa de
Sebastian. Contudo, durante todo o livro permanece a dúvida: Sebastian é ou não
culpado? Para além desta, surge ainda outra questão: o que aconteceu no passado
de Daniel que fez com que ele passasse a odiar a sua mãe adoptiva?
Estas duas questões fizeram-me
prosseguir a leitura com uma forte expectativa. Contudo, o ritmo narrativo um
pouco lento, sobretudo a partir de metade do livro, dificultou-me um pouco o prosseguimento
da mesma. Conclui, desse modo, que este livro não é um policial na verdadeira acepção
da palavra: tem uma narrativa lenta, foca-se bastante na história passada de
Daniel e menos na investigação do homicídio propriamente dito.
Por outro lado, esta história
faz-nos reflectir ainda sobre outra questão que, muito sinceramente, pouco ou
nada sabia antes de ler “O Culpado”: a partir de que idade se pode considerar
que uma criança/jovem tem já consciência do mal que pode causar a outra
pesssoa? Com que idade os jovens já são responsáveis pelos seus actos, podendo
desse modo, serem julgados nas entidades competentes? E uma vez comprovados o
crime e a sua culpabilidade, onde se deve colocar a criança/jovem: numa cadeia
ou num reformatório?
Estas questões são muito pertinentes
e considero que, infelizmente, são pouco discutidas actualmente. Todavia, seria
bom que as autoridades e as organizações sociais fossem pensando no assunto,
uma vez que, infelizmente, a percentagem de crimes em idade jovem tem vindo a
aumentar, devido sobretudo e tal como é focado em “O Culpado”, às consequências
psicológicas e sociais que advêm de uma infância perturbadora.
Apesar de contar, inicialmente, com
um livro policial, focado numa investigação, menos descritivo e com mais acção,
esta leitura foi interessante na medida em que me fez reflectir sobre questões
sociais importantes e que, actualmente, são mais vulgares do que se poderá
pensar à primeira vista.
Classificação: 5 - Bom.
1 comentário:
Ainda não li este livro, mas o problema social sobre em que idade começa a responsabilidade penal dos adolescentes (e até crianças)é muito importante e necessário. Este debate já estar a ser feito, nomeadamente nos EUA, Reino Unido e países nórdicos.
Enviar um comentário