Páginas: 314
ISBN: 9726081890
1ª Edção: 1949.
Sinopse:
Segundo Orwell, «Mil
Novecentos e Oitenta e Quatro» é uma sátira, onde aliás se detecta
inspiração swifteana. De aparência naturalista, trata das realidades e
do terror do poder político, não apenas num determinado país, mas no
mundo — num mundo uniformizado. Foi escrito como um ataque a todos os
factores que na sociedade moderna podem conduzir a uma vida de privação e
embrutecimento, não pretendendo ser a «profecia» de coisa nenhuma.
Razões
da escolha do livro: Desafio clássicos da literatura – Fevereiro.
Proveniência: A minha biblioteca. Feira do livro.
A minha Opinião:
George Orwell escreveu este livro na década
de cinquenta, apontando para um futuro com conotação apocalíptica. De facto, o
escritor descreve uma sociedade totalmente idealizada e surreal num futuro
relativamente longínquo (em 1984, passados cerca de 30 anos).
Ao lermos este livro décadas depois do ano
1984 ficamos impressionados mas também com a sensação que, apesar da descrição
fantasiosa, este poderia ser, em alguns aspectos, o panorama de um futuro provável.
Ou seja, é um livro actual que aponta para certas situações que se aproximam em
muito da realidade actual.
1984 é uma alegoria construída com o
principal intuito de criticar o modelo estalinista e que é utilizado, hoje em
dia, para enfatizar a burocracia e a fiscalização que caracterizam a sociedade
actual.
“Big Brother is watching you” (“o grande irmão
está a ver-te”) é o mote ou ponto de partida deste clássico da literatura. O “Big
Brother” é uma personagem que, através de tecnologia muito avançada, controla
toda a população a todo o momento, todas as horas do dia, esteja onde estiver,
mas ninguém o vê… Assustador não é?
Para além da descrição dos aparelhos
utilizados para “fiscalizar” o comportamento humano, existem também outros
instrumentos de trabalho, diferentes estruturas de poder, diferentes estratos
sociais.
A acção decorre em Londres mas não na “Londres”
que conhecemos actualmente. É uma cidade na Oceânia, descrita como” (…) panoramas de casas oitocentistas
arruinadas, com os flancos escavados por vigas de madeira, as janelas
remendadas a cartão e os telhados a chapa ondulada, os decrépitos muros de
jardim cedendo sob o seu próprio peso…” – p.9.
E como vive a população neste regime
totalitarista? Como em qualquer sociedade ditatorial, a população segue a
figura do Big Brother e vê-se obrigada a compactuar com as suas ideologias: “ Guerrra é paz. Liberdade é escravidão.
Ignorância é força.” – p.10. A população é obrigada a isso, sendo julgada
pelo “crimepensar”: “O pensarcrime não
provoca a morte, o pensacrime é a morte” – p.33. Qualquer indício de
pensamento ou reacção contra o regime imposto é logo penalizado com a prisão e
depois com a morte.
Este é só um exemplo do totalitarismo
exagerado implantado nesta sociedade “londrina” na década de oitenta.
A vida decrépita das pessoas é descrita neste
livro pela voz de Winston, a personagem principal do livro.
Winston tenta viver nesta sociedade mas não
pactua com ela.
Na primeira parte do livro, Winston
estabelece a descrição social, a sua divisão política e de todos os
instrumentos utilizados para controlar e vigiar as pessoas, através de um
diário que escreve clandestinamente e no qual refere, por exemplo: “O Partido…controla o futuro; quem controla
o presente controla o passado” (p.40) ou, referindo-se ao povo ou proles “ Enquanto não tomarem consciência não
se revoltarão, e enquanto não se
revoltarem não poderão tomar consciência” – p.77.
Assim, nesta parte do livro ficamos a
conhecer Winston que se revolta contra a situação imposta pelo Partido, apesar
de ter que fingir que não o faz, ao mesmo tempo ficamos a par do que
caracteriza a vida nessa sociedade.
A segunda parte do livro representa uma reviravolta
na acção. Surge Júlia, por quem Winston se apaixona. Para além deste romance,
observamos as suas tentativas de revolta e as suas acções para enfrentar a
ditadura imposta “Não percebes que o
passado, incluindo já o dia de ontem, foi completamente abolido? (…) Todos os
documentos foram destruídos ou falsificados, todos os livros reescritos, todos
os quadros pintados de novo (…) A História parou. Nada existe a não ser um
presente sem fim em que o Partido tem sempre razão” – p.160.
Contudo, será que tudo corre conforme o
planeado?
Infelizmente não e a punição por isso é
descrita na terceira e última parte do livro. Esta foi a parte do livro mais
impressionante para mim, cuja leitura me revoltou bastante. A forma como os
cidadãos são tratados e castigados só por defenderem as suas próprias
ideologias fez-me lembrar o que os portugueses passaram com a PIDE durante a
ditadura Salazarista. Por outro lado, o modo como a informação é escondida ou
manipulada e a literatura censurada recordou-me o livro Farenheit 451 de Ray
Bradbury.
1984 é, assim, um livro diferente pela sua
originalidade e pela capacidade que o autor imprime ao descrever uma sociedade
futurista e surreal mas, paralelamente, com muitos traços realistas.
Não é um livro de leitura fácil, faz-nos reflectir
e, em certos momentos, revolta-nos.
Mas estas são as características de um bom
livro e 1984 é muito bom!!
Um Clássico a não perder!
O
melhor: A escrita do escritor, os
paralelismos estabelecidos entre uma sociedade “futurista” e a actual.
O
pior: O facto de a acção se
desenrolar num tempo e espaço irreais torna a leitura do livro mais difícil. Há
certas partes da narrativa que são demasiadamente descritivas.
O
Autor:
Eric
Arthur Blair, conhecido pelo pseudónimo de George Orwell, foi um jornalista e
escritor inglês. Sua obra é marcada por uma inteligência perspicaz e
bem-humorada, uma consciência profunda das injustiças sociais, uma intensa
oposição ao totalitarismo e uma paixão pela clareza da escrita. Faleceu em
Londres em 1950, vítima de tuberculose. Das suas obras destacam-se : 1984 e O
Triunfo dos Porcos.
A
minha classificação: 5 – Bom.
Período de Leitura: De 5 a 10 de Fevereiro de 2013.
3 comentários:
Mais uma vez a Estefânia apresenta uma crítica excelente sobre uma obra emblemática: 1984 de Orwell.
Uma questão se coloca: este pesadelo poderá no futuro tornar-se realidade?
Devemos estar atentos porque o impossível de hoje pode ser o nosso amanhã.
Deste autor aconselho a leitura de "Homenagem à Catalunha".
Boas leituras. Contamos contigo Estefânia.
Só uma correção, não foi escrito nos anos 50, mas sim entre 1947 e 1949. Orwell terminou e morreu meses após.
Só uma correção, não foi escrito nos anos 50, mas sim entre 1947 e 1949. Orwell terminou e morreu meses após.
Enviar um comentário