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Colecção Mil Folhas, Público| 95 Páginas |
Este é um clássico da literatura
diferente dos que já li até hoje: é sobretudo uma reflexão sobre o significado
do sonho e de como este pode afectar ou não o nosso quotidiano.
No dicionário de língua portuguesa
“Sonho” significa: associação de imagens,
frequentemente desconexas ou confusas, que se formam no espírito da pessoa
enquanto dorme; Fig. Ilusão, fantasia, devaneio, utopia: o sonho acabou.
É em torno desta definição que
gira toda a narrativa: é-nos apresentado
um casal, Fridolin e Albertine que um dia decidem por mútuo acordo contarem
algumas coisas um ao outro, episódios que aconteceram consigo próprios e de que
o outro nunca suspeitaria. Atracções fugazes e sem nenhum desenlace
comprometedor formam a base das revelações mútuas.
Albertine tem um sonho, que até
poderia ser real, que talvez o próprio inconsciente dela poderia desejar que
fosse real; Fridolin vive uma experiência completamente rocambolesca, com
imenso mistério e suspense, em que muitas vezes toca a fronteira do "proibido",
sem nunca a ultrapassar, talvez mais pelas próprias circunstâncias que pela sua
própria vontade, algo que nem ele próprio chegará alguma vez a saber.
Albertine conta a Fridolin o seu
sonho, que parece tão real, e que Fridolin leva tão a sério que o julga real, e
Fridolin conta a Albertine a sua experiência, que Albertine toma, naturalmente,
como um sonho, pois o seu sonho teve tanto de realidade como a realidade que
Fridolin viveu teve de sonho. O desenlace do romance torna-se imprevisível aos
nossos olhos até às últimas páginas, magnificamente concluídas pelo autor do
romance.
À medida que ia lendo fui-me
recordando do filme “De Olhos Bem Fechados” com Tom Cruise e do realizador
Stanley Kubrick mas só depois tive a certeza que este realmente foi baseado
neste clássico da literatura.
Um pequeno ensaio-romance sobre a
questão do sonho, em sentido real e figurado, trocando-nos as voltas e
levando-nos a interrogações sobre as motivações íntimas do nosso ser, tantas
vezes enclausurado dentro de regras e formalidades que criamos para nós
próprios, mas que, se não existissem, também não permitiriam termos uma vida
minimamente consistente.
O sonho pode ser realidade, e a
realidade que vivemos pode até nem passar de um sonho. O que é o sonho e o que
é de facto real?
Um livro que nos faz pensar, bastante
filosófico ( a meu ver exageradamente filosófico) e cujo tamanho ajudou à
leitura: o arrastar da narrativa e a complexidade do tema, faria com que muito
provavelmente deixasse o livro a meio caso este fosse mais volumoso.
O Autor:
Filho de um médico judeu de renome, Arthur Schnitzler também estudou
medicina na Universidade de Viena, tendo chegado a escrever uma tese sobre o
tratamento hipnótico das neuroses; porém, foi à literatura que dedicou a vida.
Romancista, contista e dramaturgo de excepção, viu reconhecidos os seus méritos
literários nos anos 90 do século XIX, não sem controvérsia, como é costume com
os que vão à frente no seu tempo. A ideologia nazi havia de proibir-lhe as
obras, tanto na Alemanha como na Áustria.
Período de Leitura: De 20 a 25 de Outubro de 2013.
Classificação: 4 - Interessante
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