Jornal Público|Colecção Mil Folhas|320 Páginas |
Já tive a feliz oportunidade de ler alguns
livros de Edith Wharton, a meu ver uma das melhores escritoras americanas do
século XIX!
Por outro lado, já assisti à adaptação
cinematográfica deste romance pela mão do meu realizador preferido, Martin
Scorsese, e por isso sabia o enredo do livro. Contudo, o facto de ter visto o
filme previamente não me desmotivou minimamente para ler este clássico da
literatura já que a “marca” de Edith Wharton é sinónimo de qualidade.
À semelhança da maioria dos seus romances, a
autora tece o quadro da sociedade Nova Iorquina do Séc. XIX de uma forma muito
peculiar, através da caracterização das personagens e da sua envolvência de uma
forma realista e confere ênfase à psicologia humana: os seus desejos e medos
mais profundos que cada um guarda para si, na maioria das vezes para não irem
contra os convencionalismos da época.
Newland Archer, o personagem principal do
livro, tem uma abertura cultural e intelectual vanguardista e, por isso, não se
consegue inserir convenientemente nas regras pré – estabelecidas da sociedade.
Assim, é uma personagem em permanente luta interior entre a vontade de
demonstrar o que realmente pensa ou preservar isso para si de modo a não ser
confrontado pela crítica dos que o rodeiam!
É nesse contexto que a vida de Archer é
abalada pela chegada da condessa Olenska que, tal como ele, não se adapta às
regras sociais. Esta partilha de valores e opiniões fará despoletar a paixão
entre ambos e tal não seria surpreendente, não fosse o facto de, por um lado,
Archer estar noivo e, por outro, a condessa Olenska estar em processo de
divórcio.
São estes condicionalismos e lutas morais que
nos acompanham ao longo das cerca de trezentas páginas do romance!
A descrição e crítica social são ricas em
pormenores e fazem o leitor reflectir. Por entre salões de baile, festas e
costumes há espaço ainda para uma pitada de sentido de humor, apesar de
prevalecer o pessimismo das personagens do princípio ao fim do livro.
Não é uma história de amor convencional, é
mais do que isso: é o retrato de uma cidade, de uma época, de escolhas e do
modo como as personagens têm de conviver com isso.
Foi, assim, uma leitura deveras enriquecedora
e emotiva que me fez reflectir sobre a evolução das mentalidades (nomeadamente
no que se refere à condição da mulher) e de como é essencial transmitir os
nossos sentimentos na altura certa porque, afinal, mais tarde poderá ser tarde
de mais!
A Autora:
Edith
Wharton nasceu em Janeiro de 1862, filha de uma família de Nova Iorque com
prestígio e “dinheiro antigo”. Em 1885, aos 23 anos, casou com Edward Wharton,
um aristocrata de Boston vinte anos mais velho que aceitou passar temporadas na
vida agitada e cosmopolita de Paris no virar do século. Edith compra um
automóvel e anda nele a “grandes velocidades” com um grupo de amigos que
incluia o escritor Henry James e, mais tarde, Fitzgerald, Hemingway, Roosevelt
ou Jean Cocteau. São anos frenéticos em que atravessa 64 vezes o Atlântico.
Em
1905 publicou pela primeira vez um romance, “A Casa da Alegria” (ed. Presença),
a história da degradação de uma mulher a quem a sociedade não deixa sair do
beco em que o seu casamento se transformara. A história tinha alguma coisa a
ver com ela, como se percebeu mais tarde, uma vez que o seu casamento ia de mal
a pior. O marido parece que era uma nulidade em tudo, sexo incluído. Em Edith
1909 arranja um amante; em 1911 decide estabelecer-se definitivamente em
França; em 1913 divorcia-se.
Na I
Guerra Mundial utiliza os seus conhecimentos para obter permissão de se
deslocar às linhas da frente num “side-car” e, de regresso a Paris, trabalha na
Cruz Vermelha na assistência a refugiados. Foi depois condecorada com a “Legion
d’Honneur” pelo estado francês. Após a Guerra Edith Wharton só viaja uma única
vez aos Estados Unidos. Morre na França, em 1937.
A minha classificação: 6 – Muito Bom.
Período de Leitura: De 13 a 18 de Julho de 2013.
1 comentário:
Mais uma excelente crítica a um excelente livro. Não esquecer a sua passagem para cinema num filme com o mesmo nome!!!
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